Sou "algo do tipo"

09 novembro 2012


Todos os dias, uma rotina interminável. Ela acordava, colocava cinco minutinhos a mais no despertador. Levantava, meio zonza. Ia até o banheiro lavar o rosto, sua expressão cansada… E ficava pior em todas as manhãs de segunda-feira. Pegava as chaves, passava na maquina de café e pegava logo um copaço. Sabia que a cafeina não iria resolver nada, mas ajudaria aguentar mais um dia de porre na empresa. Respirava fundo, entrava no escritório e fazia seu serviço, igualzinho, todos os dias. Inclusive os funcionários chatos e o chefe que reclamava de dez em dez minutos. Era uma enxaqueca insuportável, não que ela tinha a tal doença, mas parecia ter adquirido de tanto estresse. Sentia falta de quando sua vida fazia sentido, mesmo não lembrando quando foi a ultima vez que alguma coisa fez sentido. Não se lembrava mais como era um sorriso espontâneo. Há meses, quem sabe a anos, não via os antigos amigos. Se sentia sozinha e vazia. Pensou em tirar uma férias, talvez o vazio que sentia, não era um vazio qualquer. Talvez era só estresse e o cansaço. Mesmo depois de dois meses, acordando ao meio-dia e comendo porcarias o dia todo, ainda sentia o tal ”vazio”. Não entendia o motivo, sendo que, ela já estava bem descansada… Um dia, indo a um barzinho por perto, encostou no balcão e fez seu pedido. 
— Um café, por favor. 
— Cafeina não resolve. — Disse um cara encostado no fundo do balcão.
— Como é?
— Desculpa falar assim, mas venho reparando em você. Moro no apartamento ao lado, eu não queria que nosso primeiro encontro fosse assim. Mas já que aconteceu… — Disse dando uma risada abafada.
— Primeiro encontro? Você está brincando comigo né? 
— Ei, fica aqui. Me desculpa ter chegado assim, nem disse meu nome.
— Não importa.
— Você não me conhece, e pelo jeito não quer me conhecer. Mas só me escuta? Um minuto?
— Tudo bem, seja rápido.
— Te acho linda, quando você sai atrasada com o cabelo bagunçado, correndo pelas escadas abaixo. Você não olha pra ninguém, e nem deixa que ninguém se aproxime de você. Você pediu férias, e viu que o cansaço não passou. Talvez porque você não tenha cansado fisicamente, e sim emocionalmente. Não vejo um sorriso no seu rosto a tempos, e eu não posso esquecer de mencionar que ele é lindo. Tento te dar um bom dia a meses, mas você é meio incomunicável né? 
— Você é um detetive, ou algo do tipo? — Disse rindo.
— Sou “algo do tipo”. E agora, me da uma chance pra começarmos de novo nosso primeiro encontro? 
— É claro, qual seu nome? 
(Eles riem)
Abra os olhos pra quem está ao seu lado e te quer bem.

Carol Alves. 
(Mais textos dela aqui.)


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